Tive a bênção de crescer e ser ensinada pelas mulheres da minha família. Sendo de uma família de muitos tios, tias e primos, também me foram passadas as várias artes, segredos e contos.
Hoje falo da minha mãe Carmen Renata Correia Cabral e da minha avó Angelina. Ambas me ensinaram um infindo número de temas e artes com a destreza de sábias lobas e amorosas mães. Sim, porque ser mãe, não tem necessariamente o significado comum, ser mãe é também e para além de tudo, ser cuidadora e ensinadora… neste assunto por aqui me fico, prometendo voltar ao mesmo um dia destes.
Voltando ainda ao seio das mulheres da minha família, uma das coisas que aprendi a fazer foi bordar à mão. (também eu e a minha mães passamos este treito à minha filha).
Lembro-me ver a minha avó a bordar, sentada e de perna cruzada, sempre muito bem penteada.
Lembro-me de estar de pé ao seu lado, encostar a bochecha no seu ombro e sentir o cheiro da água de rosas com que lavava o rosto e passava nas mãos, do seu corpo sentira também o cheiro morno de lavanda.
Ali ficava como que a inspecionar a sua arte.
Do lado de lá da sala, a minha amada mãe, que na mesma pose que a sua mãe também bordava.
A diferença entre as duas é que a minha mãe cantava hinos e músicas dos anos 60, enquanto a minha avó dava ao pé, acompanhando o ritmo da voz da filha, que por sua vez, acompanhava o dar ao pé da mãe.
Havia uma sintonia, uma magia no ar, algo que me dava a sensação de segurança, de estar entre mestras. A certeza de ali eu aprendia segredos e mestrias ancestrais. Rituais sagrados que se passam entre mulheres, durante a serenidade de tardes soalheiras.
Àquela hora passava radio novela "Simplesmente Maria" e logo a seguir "Os Parodiantes da Rádio", lembram
Parodiantes de Lisboa
Chegou então o dia de me ser dado um quadrado de linho
-de cor crua.
Sempre gostei mais do linho cru, natural do linho branco, não sei…. sentia-me mais perto da raiz… hoje entendo.
Vestido de linho cru
E foi assim que eu aprendi a bordar, quero dizer ... que ali aprendi muito mais, mas hoje foquei-me no bordado (da minha vida).
Conheces a lenda do Lenço dos Namorados bordado?
Para quem não a conhece, aqui fica a lenda e um beijinho de gratidão muito doce a quem me ensinou a bordar.
A lenda de amor que se destaca em Portugal e que é celebrada no dia 28 de março está relacionada com o Lenço dos Namorados.
Esta tradição do Minho envolve a confeção de lenços bordados com mensagens de amor.
Uma das lendas associadas a esta tradição conta a história de uma rapariga que, apaixonada por um rapaz e sem receber uma declaração dele, decidiu expressar os seus sentimentos através de agulha e linha, bordando um lenço.
Este gesto deu início a um namoro que durou uma vida inteira.
Os Lenços dos Namorados são uma expressão rica da cultura portuguesa, refletindo o romantismo e a criatividade das mulheres minhotas na arte de bordar declarações de amor.
Esta tradição é um belo exemplo de como o amor e a arte podem estar entrelaçados na cultura popular.
Ruth Colaço, a autora do texto.