Ser ancestral é anteceder algo ou alguém
É ser antigo, como uma árvore secular
Como os castelos que nos erigiram
Como um avô, uma avó, um pai ou uma mãe
Que já partiram
Como os soalhos velhos que rangem memórias
Pedaços de vidas passadas, lendas, histórias
Horizontes de vivências a recordar.
É a nostalgia que paira no olhar…
Um beijo que se deu e esvoaça no ar
Uma flor que se ofereceu
E que nunca secou
Um abraço retido no tempo…
É a hera que trepa as ruínas das palavras ditas
No silêncio de quatro paredes
Onde já não estás.
São as vozes do canto apagadas
Nas gargantas que tanto chamaram por nós
Os nomes trocados, repetidos até lá chegar…
-Vai à fonte, Maria… oh, Mercedes, Ester, Dulcídia…
Era assim, com a avó, era assim com a mãe
E era assim com o pai que me deixou, também.
Com a derradeira partida
O colo que me aconchegava emudeceu.
Ficou o vazio que a saudade preenche
Os livros, a poesia, o gato e eu.
Dulci Ferreira a autora da poesia